sexta-feira, 19 de junho de 2015

Confira uma artigo do professor Pio Penna Filho

O Interesse Chinês na América Latina

Pio Penna Filho*

A China vem aí. Ou melhor, a China já chegou na América Latina. Nas últimas três décadas assistimos a um crescimento considerável da economia chinesa, que se projetou em direção aos quatro cantos do mundo. Hoje, estamos assistindo a uma verdadeira “mundialização” da China. 

Além da agressividade comercial, os chineses também estão participando ativamente em grandes investimentos espalhados pelo mundo. Não é a toa que a China atingiu o patamar de segunda maior economia mundial.

Inicialmente, as empresas chinesas se projetaram vendendo todo tipo de bugiganga. A maior parte dos seus produtos era de baixa tecnologia e valor agregado, mas esse quadro mudou rapidamente. Por exemplo, hoje, no Brasil, os chineses instalaram montadoras de automóveis e estão entrando pesado nesse mercado.

Ainda em termos comerciais, a maior parte dos produtos que os consumidores tem acesso são “made in china”. Não importa a marca; muitos, mas muitos produtos, são feitos ou montados na China e vendidos ao redor do mundo. Basta uma olhadela mais atenta nas embalagens e qualquer leitor irá comprovar como sua vida está impregnada de produtos “chineses”.

E há muito mais além do comércio. Empresas chinesas estão investindo pesado em diversos países, inclusive no Brasil. A maioria desses investimentos são destinados à criação de infraestrutura e exploração de matérias-primas, essenciais para a continuação do crescimento chinês.

Ou seja, trata-se de um padrão já conhecido pelos países menos desenvolvidos: por um lado, o que os chineses estão procurando são matérias-primas para manter suas indústrias a pleno “vapor”; por outro, buscam mercados para despejar seus produtos industrializados. Esse é justamente o perfil das relações Brasil-China. Um perfil acima de tudo assimétrico.

A produção chinesa é muito mais barata que a brasileira. Isso tem a ver basicamente com a produtividade do trabalhador chinês, sua baixa remuneração, a carga tributária chinesa (incomparavelmente menor que a brasileira) e um vasto e complexo programa de apoio estatal à exportação. Além disso, o empresariado chinês também pensa e age em termos de mercado mundial, diferentemente da maior parte do empresariado brasileiro.

O procedimento é basicamente o mesmo, não importa se é a China ou outro país economicamente desenvolvido. Isso quer dizer que tanto faz uma China que se diz “comunista” ou um Estados Unidos que se diz “capitalista”, o que move o seu comportamento é a busca por vantagens econômicas. Portanto, os governantes brasileiros e latino-americanos deveriam parar de se iludir ou de iludir a população e observar de maneira mais crítica e inteligente quais são os interesses em jogo.

Não adianta nada sair de uma dependência e cair em outra. A China não será a salvação para nenhum país do mundo, muito menos para um país da América Latina. O que os chineses desejam é ampliar os seus negócios e alcançar os seus objetivos em termos de manter, o máximo possível, o seu espetacular crescimento. E para isso precisam do mundo.



 












* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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