quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Entre a guerra e a paz




Guerra e Paz

Pio Penna Filho

A guerra é um fenômeno que acompanha a vida humana, social por natureza. Quando estudamos a história da humanidade um aspecto que impressiona é a frequência com que as guerras acontecem. Os momentos de paz costumam ser, infelizmente, quase que interregnos entre uma guerra e outra, seja entre dois ou mais Estados, seja no interior dos Estados. Hoje não é muito diferente, embora a nossa percepção costume se ater mais aos períodos de paz.
As notícias de guerra estão presentes quase todos os dias nos jornais. Há meses, por exemplo, é difícil não encontrar uma matéria que trate da guerra na Síria, no Afeganistão, em algum recanto geralmente esquecido da África ou ainda numa guerra anunciada contra o Irã que está prestes a acontecer a qualquer momento. Nos acostumamos com isso.
 
Aliás, nos acostumamos até com coisa pior. Veja-se, por exemplo, o caso dos genocídios. Apenas no século XX tivemos quase uma dezena. Embora seja o mais lembrado, o holocausto contra os judeus está longe de ser o único. É importante lembrar que o século XX se encerrou com o triste episódio de Ruanda, com quase um milhão de mortes em 1994.
Já o século XXI recebeu como herança um outro genocídio, também em solo africano. Em Darfur, no oeste do Sudão, milhares de pessoas pereceram e continuam perecendo numa guerra sem fim e de difícil compreensão. De novo, a incerteza e a morte rondam a vida das pessoas aos milhares. E, de novo, nos comportamos como se isso não fosse problema nosso.
Essas são as guerras, digamos, mais conhecidas e, talvez, impactantes. Mas não são as únicas. Quem não se lembra ou nunca ouviu falar da guerra civil na Líbia, do conflito entre palestinos e judeus, das guerrilhas na Colômbia, da guerra sem fim no Afeganistão e no Paquistão, dos vários conflitos de baixa intensidade na África e de tantos outros mais pontuais?
O estudo das relações internacionais não deixa dúvida: esse campo do saber prosperou principalmente porque era preciso entender melhor a relação conflituosa entre os Estados que, em caso extremo e numa era de sociedades industriais, tornou-se mortalmente perigosa. Não é à toa, portanto, que a disciplina ganhou um enorme impulso logo após os horrores da chamada Primeira Guerra Mundial.
E a paz? A paz continua sendo uma quimera, um sonho que move tantos humanistas. De fato, como humanos, não podemos viver sem a esperança de que um dia consigamos pelo menos nos aproximar dela. Mas é importante que não percamos jamais essa dimensão tão violenta da natureza humana. É como uma advertência permanente: nem sempre a guerra tem uma motivação exclusiva ou preponderantemente econômica. Há nela um quê da essência humana.
 
Um dos grandes desafios da humanidade continua sendo o dilema entre a guerra e a paz. No fundo, trata-se mesmo é do dilema de compreendermos melhor que sociedade construímos até hoje e onde queremos chegar.



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Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail:piopenna@gmail.com








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