quinta-feira, 22 de março de 2012

Historiador comenta a importância da Amazônia

Amazônia: um sistema regional

Pio Penna Filho*

A região amazônica é vista como estratégica pelo Brasil. Sua importância se verifica em múltiplos campos, com destaque para o ambiental e para o econômico, aliás duas perspectivas difíceis de compatibilização, sobretudo quando o assunto converge para a exploração dos diversos recursos naturais existentes na Amazônia.
A grande questão é como compatibilizar a exploração dos recursos encontrados na Amazônia com a preservação ambiental e com os direitos das populações nativas e não nativas que há muito tempo habitam a região. A expansão do agronegócio, a exploração de gás e petróleo, as atividades de extração de madeira, ouro e outros minerais realizadas até o presente momento já demonstraram quão agressivas são essas atividades para um ecossistema relativamente frágil, e assim também como são perturbadoras para as vidas das pessoas que moram na vasta zona amazônica.
Além de tudo isso é preciso considerar o aspecto político-estratégico da bacia amazônica tal qual apreendido pelos militares e estrategistas brasileiros. Durante muito tempo o principal lema dos militares era “integrar para entregar”, numa clara alusão à cobiça internacional sobre a Amazônia.
Nessa perspectiva há uma preocupação focada na segurança nacional propriamente dita, uma vez que os militares, especialmente, identificam que há uma latente ameaça à soberania e integridade do país. De fato, essa percepção não surgiu do nada. Muitas foram as demonstrações internacionais de que era preciso coibir a devastação da floresta e preservar os seus recursos naturais, daí o discurso de uma pretensa “internacionalização” da Amazônia.
Um aspecto importante, todavia, tem sido relegado pelas autoridades brasileiras. Não deveríamos pensar a Amazônia apenas a partir da perspectiva nacional, uma vez que a bacia amazônica conforma um complexo e interdependente sistema que não respeita divisões fronteiriças estabelecidas pelos humanos.
O Brasil tem uma responsabilidade maior nesse assunto porque, de todos os países amazônicos, é o único que assume de forma clara a sua condição amazônica. Os nossos vizinhos que compartilham a floresta conosco não tem essa percepção. Somos também o país que mais agride e devasta a Amazônia, causando impactos que não ficam restritos às nossas fronteiras.
Vale lembrar que existe um esforço brasileiro no sentido de aprofundar a integração da região amazônica, dotando-a de uma infraestrutura básica que permita maior intercâmbio entre os países que a circundam. Ou seja, busca-se criar uma dinâmica econômica regional e fortalecer o relacionamento dos Estados que compartilham a bacia amazônica.
Na medida em que avançamos a passos largos em direção à floresta nos defrontamos com uma série de desafios de grande magnitude que não deveriam ser pensados apenas numa perspectiva nacional. Muitos desses desafios, como a segurança, pensada em seus múltiplos campos, a mudança climática provocada pela ação humana, a exploração sustentável de recursos naturais e a construção de uma infraestrutura de integração regional, só fazem sentido se pensadas em sua dimensão sistêmica, ou seja, regional.



Lila - Jornal da Paraíba - João Pessoa (PB)

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