quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Professor comenta a retirada das tropas norte-americanas do Iraque

O Iraque e a retirada Norte-americana

Pio Penna Filho*

http://www.cabalau.com/2010_09_01_archive.html


Os Estados Unidos retiraram a maioria de suas tropas do Iraque após quase uma década de ocupação militar. Os resultados estão muito aquém daqueles anunciados quando do início da invasão que, resumidamente, eram o de livrar o povo iraquiano da ditadura de Saddam Hussein e promover a democracia e os valores ocidentais no país. Esses, claro, objetivos confessos, que poderiam ser apresentados à luz do dia para uma opinião pública mundial previamente preparada para a invasão.

A aventura iraquiana da administração Bush começou com uma mentira contada e repetida inúmeras vezes para um mundo cada vez mais perplexo: o regime de Saddam Hussein era uma ameaça não apenas para os iraquianos, mas para a humanidade, uma vez que possuía estoques consideráveis de armas de destruição em massa que poderiam ser utilizadas a qualquer momento como manifestação terrorista de um governo irresponsável, cruel e desobediente.

Preparado o terreno, deu-se início à ocupação efetiva do território, que já estava devidamente sob intensa pressão internacional, com sanções e embargos, e que havia sido incansavelmente bombardeado principalmente pelos Estados Unidos há vários anos até o início da ofensiva terrestre. Assim, a resistência das Forças Armadas iraquianas foi pouca, mas o mesmo não aconteceu com relação ao povo iraquiano.

O fato é que os Estados Unidos chegaram, capturaram e executaram Saddam Hussein, tentaram reorganizar o país de acordo com os seus interesses e se atolaram no que o atual presidente dos Estados Unidos chamou de uma “guerra estúpida”. A partir daí não houve mais paz, nem para os Estados Unidos e muito menos ainda para o povo iraquiano.

Os dados relativos ao número de mortos são muito imprecisos, principalmente as estimativas para o lado iraquiano. Os números variam muito, indo de aproximadamente 150 a 600 mil mortos, entre civis e militares. As fontes mais independentes e que provavelmente se aproximam mais da realidade, são as que estimam o valor maior. Já para o lado dos aliados, os dados são mais precisos. Cerca de 4.500 soldados norte-americanos perderam a vida no Iraque ocupado e algo em torno de 300 militares de outras nacionalidades aliadas tombaram durante a ocupação, com predominância para soldados britânicos. Poucos em comparação com as baixas iraquianas.

E o que ficou de tudo isso? Onde está a tão propalada democracia? Que herança, além da destruição e fragmentação social, os Estados Unidos estão deixando no país? Ninguém questiona o fato de que Saddam Hussein foi um crápula e um ditador sanguinário e, por isso mesmo, os norte-americanos teriam a obrigação de deixar algo de mais positivo em seu lugar, uma vez que resolveram intervir justamente em nome dos direitos humanos e da paz.

Está aí, aliás, um dos grandes paradoxos da ação dos Estados Unidos pelo mundo afora: fazem a guerra em nome da paz! Mal acabaram de sair do Iraque e os tambores de guerra já estão a emitir sua ensurdecedora sintonia, agora em direção ao Irã. Até quando?



*Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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