terça-feira, 21 de junho de 2011

Indivíduo, identidade e socialização

Sociologia
Coleção Pitágoras - Ensino Médio
Primeiro Ano
Unidade 3
Indivíduo, identidade e socialização

Confira a música "Eu", da banda Pato Fu

A questão da identidade

Desafiando

Observe as duas imagens a seguir: a de um antigo e a de um atual noticiário da TV.

Gontijo Teodoro estréia na TV Tupi no Rio de Janeiro, em 1952, o seu Repórter Esso, que ficou no ar durante 18 anos e 9 meses.

CNN Headline News

1. Destaque as diferenças que as duas imagens apresentam.

2. Observando as imagens, quais transformações sociais podem-se deduzir que ocorreram na sociedade: Relacione pelo menos quatro.

3. De todas essas mudanças vivenciadas na sociedade, qual delas tornaram-se problemas sociais? Indique as mudanças e os problemas.

4. A partir das duas imagens de noticiários de TV, é possível descrever uma identidade nacional nas duas épocas citadas. Descreva semelhanças e as diferenças dessa identidade. Contextualize as imagens em relação ao tempo histórico.

Observe as duas imagens.

5. Agora busque uma fotografia sua de dez anos atrás e uma bem recente. Compare as duas e observe as mudanças, não só as físicas, mas também as interiores e responda: quem você era e quem você é agora? Das mudanças observadas em você, quais foram para melhor e quais se tornaram problemas?


A pergunta a seguir e o próximo texto propõem uma mudança de enfoque no tema abordado anteriormente. Para tanto, responda às perguntas e depois faça uma relação de suas respostas com o texto.


6. Você tem medo de dizer NÃO para pessoas que lhe são próximas? Por quê?

Agora você já respondeu às questões propostas, leia o texto a seguir e relacione-o com suas respostas e com a sociedade brasileira.


Ponto de vista: Claudio de Moura Castro
Sociedade cordial

"Quem sabe, por falta de hecatombes,
a história deixou de nos ensinar a tomar
decisões duras e penosas, as que cortam
na carne, as que pisam nos calos de muitos"

Quais países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) têm mais futuro? Nas vantagens do Brasil, mencionam-se a nossa tolerância e o nosso pacifismo, bem como a capacidade de lidar com a diversidade e evitar confrontações brutais. Tal argumento traz a inevitável lembrança do "homem cordial" de Sérgio Buarque de Hollanda – de que muitos falam, alguns discordam e que poucos leram. Não me atrevo a passar a limpo tal encrenca. Mas o homem cordial pode inspirar um passeio pela história. Comparativamente, tivemos poucos eventos traumáticos, sangrentos e que tivessem requerido decisões dramáticas (exceto para os pobres, de pouca ressonância na nossa cultura). Dos piores episódios, sobressaem a Guerra do Paraguai e a de Canudos. Mas, em ambos os casos, o governo foi tragado passivamente, não tendo alternativa senão salvar seu território.

Ilustração Atomica Studio


Os Estados Unidos enfrentaram uma guerra sangrenta para alcançar sua independência. A nossa foi assunto de família, resolvido com elegância. A Revolução Francesa abalou os alicerces da nação, dizimou a aristocracia e, por décadas, deu emprego aos operadores de guilhotinas. Nossa república é fruto de uma quartelada. Nos EUA, a liberação dos escravos precipitou uma das guerras civis mais brutais da história. Nela perderam a vida 620.000 soldados (três vezes o Exército brasileiro de hoje). No Brasil, a escravidão acabou, com uma
penada, quando já estava moribunda. Nunca tivemos um presidente assassinado. Que lição de civismo para os Estados Unidos! Nossas quarteladas do século XX são de opereta. Note-se que, nos vinte anos de período militar, morreram menos pessoas do que na confrontação de estudantes com a polícia em um estádio de futebol do México. E as matanças desenfreadas nas muitas revoluções mexicanas ou os milhares de mortos e desaparecidos no Chile e na Argentina? A Europa viveu duas grandes guerras, devastadoras, quando até a classe média passou fome. Na segunda, 52 milhões de pessoas pereceram. E isso depois das infindáveis guerras do passado, incluindo uma que se chamou Guerra dos 100 Anos! Não faz muito tempo, na Indonésia, 150.000 civis foram fuzilados em poucos dias. No Camboja e em Ruanda, fala-se de milhões de mortos. Só por obra de Mao, na China, foram-se 70 milhões.

Homem cordial? Sociedade cordial? Alguma coisa diferencia a nossa história, poupada dos cataclismos medonhos que causaram indizível sofrimento a outros países. Louvemos os deuses. Mas há o reverso da medalha.

O Estado brasileiro não precisou tomar decisões cruéis, de vida ou morte ou diante de invasores mais fortes. Tampouco manejar pela força transformações de sistemas políticos ou econômicos, como na Rússia, no início do século passado, quando os alicerces foram sacudidos pela revolução comunista e se sucederam choques fratricidas. Anos antes, seus generais haviam incendiado e devastado uma faixa de terra de 100 quilômetros de largura, do próprio território, para derrotar as tropas de Napoleão.

Quem sabe, por falta de hecatombes, a história deixou de nos ensinar a tomar decisões duras e penosas, as que cortam na carne, as que pisam nos calos de muitos. Em situações em que não há consenso, ficamos paralisados. Toleramos o intolerável quando não encontramos um desenlace de conciliação.

Nossa sociedade, medrosa e indecisa, conviveu por meio século com a inflação. Não teve coragem de reformar a Previdência, os impostos, a lei eleitoral, a trabalhista, a sindical, a judicial e muitas outras. Deputados não ousam punir colegas delinqüentes. Não fazemos as reformas econômicas profundas, como fizeram Argentina, Peru e Chile. Assistimos impassíveis à nossa economia ser corroída pela China. Diante das desigualdades seculares, oferecemos esmolas pré-eleição. Sonhamos com a volta de dom Sebastião – ou do Juscelino.

Será que esse é o preço de uma história mais plácida, que exigiu menos decisões dramáticas dos grandes atores? Será que, por não havermos passado por situações de vida e morte, não aprendemos a tomar decisões penosas? Nosso homem cordial prefere viver com os problemas a enfrentá-los, quando as soluções são conflitantes?

Claudio de Moura Castro é economista
(Claudio&Moura&Castro@attglobal.net)

7. Observe as palavras em negritos no texto e, analisando o contexto, dê significado a elas.

8. O que é “sociedade cordial” de acordo com o texto?

9. Que características da sociedade brasileira o autor salienta para fundamentar seu argumento de que temos uma sociedade cordial?

10. Discuta em grupo: nossa identidade interfere na identidade nacional ou a identidade nacional interfere na nossa identidade?

Confrontando

Para construirmos conhecimento, necessitamos confrontar nossas ideias e convicções. Leia os textos que se seguem e confronte as ideias apresentadas por eles, com as observações e as análises elaboradas por você nas situações que foram propostas anteriormente.

A diversidade do processo de socialização: família, escola, religião e meios de comunicação

Quando abordamos o tema indivíduo, identidade e socialização, intercambiamos vários fatores que influenciam na formação da pessoa. Família, escola, religião e os meios de comunicação agem diretamente nesse processo e é esse assunto que vamos explorar agora.

11. Discuta com seu colega: de que maneira você percebe a influência da família, da escola, da religião e dos meios de comunicação na sua própria formação?

A FAMÍLIA

Uma criança, ao nascer, já encontra um mundo organizado e pronto para ser utilizado e, ao longo do seu processo de crescimento, vai se adaptando e aprendendo a linguagem e os costumes; vai se aprimorando com as tecnologias existentes e também com a história do seu povo e do seu meio. Encontra-se na família, nas suas diversas maneiras de se organizar, o primeiro contato das crianças com esse mundo da linguagem, dos costumes e das tecnologias.

Dentro da família, observam-se mudanças significativas que afetam a escola. Atém bem pouco tempo. Era “natural” encontrarmos famílias numerosas: seis, sete, oito ou mais filhos. A estrutura familiar era muito diferente da dos dias atuais. Era comum a divisão de tarefas da casa entre os filhos, coordenados, a todo momento, pela mãe, a famosa “dona de casa” ou “do lar”. O pai era o provedor; a mãe, a conselheira, a “companheira”, a educadora.

Hoje existe uma estrutura familiar diferente, e a mulher começou a conquistar espaços antes reservados apenas aos homens; a mãe agora trabalha fora, impulsionada pela crise financeira e/ou pelo desejo de ser tratada e considerada como ser humano pleno. Tal situação já provoca consequencias significativas, a começar pelo tamanho das famílias. Sem nenhuma comprovação estatística, observam-se famílias de menor porte. Já não há tarefas há dividir, pois a empregada doméstica ou faxineira cuida dos afazeres da casa. Os filhos iniciam, muito cedo, a vida escolar devido à ausência da mãe, agora trabalhando fora. O pai continua com o status de provedor, mas dependente do salário da mãe, pois esse se faz necessário para as despesas e, consequentemente, é também chamado à tarefa de educador. Nota-se aqui uma crise de identidade do papel do pai ou mesmo do homem nessa nova maneira de a sociedade se estabelecer.

Essas mudanças são bastante recentes, provocando impasses e contradições. Pais cobram das mães a ausência do lar e na educação dos filhos. Os próprios filhos cobram dos pais e das mães presença, atenção e carinho.

A questão da liberdade entre em cena, muitas vezes, transformada em libertinagem pla permissividade dos pais e pela falta de limites, provocada pela ausência da mãe e do pai. Tal ausência leva os pais a um sentimento de culpa que estes tentam minimizar cedendo às “chantagens” dos filhos, em atitudes compensatórias. Muitos ainda confundem limite com autoritarismo e repressão, resquícios dos tempos da ditadura ou da própria educação que receberam.

É interessante observar que, junto a essas mudanças, acontecem também avanços tecnológicos que colaboram para um novo ritmo de vida das pessoas e das famílias. Há poucos anos, não imaginávamos, no nosso cotidiano, máquinas de lavar roupa e louça, micro-ondas, DVD, vídeo game, microcomputador, celular, MP3, fax, internet, etc. Todas essas fantásticas máquinas e tecnologias propiciam rapidez e conforto para país, mães e filhos.

Percebe-se essa tecnologia avançando rapidamente, concomitante às mudanças dos hábitos da família, contribuindo decididamente para uma significativa crise de valores. Isso porque nossos conceitos morais, nossa mentalidade não acompanham o ritmo dos avanços tecnológicos. Hoje se vivencia uma estrutura familiar diferente daquela de 20 anos atrás, mas continua a se conviver com conceitos e preconceitos de família do século passado, ou seja, vivenciam-se novos hábitos, mas com valores antigos. Reside aqui um grande desafio a ser superado pelas famílias de hoje: repensar valores e adapta-los às exigências da atualidade.

A escola está inserida nessa realidade de conflito ético, pois recebe o filho dessa nova família, e também ela convive com seus conflitos institucionais de modernização e adaptação a uma realidade democrática, questionando-se sobre a sua postura ideológica.

Também os professores vivenciam um conflito semelhante, pois percebem que os alunos não são mais como antes, passivos e “obedientes” às suas “verdades”, resquícios de uma pedagogia autoritária. Estes, por sua vez, acabam vivenciando o conflitos dos pais, pois não sabem conviver com limites numa perspectiva não autoritária e nem transformar as aulas em um espaço de construção de conhecimento e de exercício da democracia e da liberdade, insistindo apenas nas aulas expositivas e explicativas, que não levam o aluno ao crescimento necessário para a sua formação integral, exigência dos dias atuais.

Pode-se concluir que a educação escolar de um passado recente não evoluiu numa perspectiva de autonomia, ou seja, não se educou para o autogoverno, para se ter senso crítico, criatividade, etc. O pior é que se continua reproduzindo essa educação para outras gerações, não porque se quer, mas porque ainda se está aprendendo ou reaprendendo a educar num outro referencial de liberdade e de não repressão. Muitas vezes, pais e educadores tornam-se aprendizes com filhos e alunos, pois eles não carregam em si os “genes” da educação da época da ditadura, Muitos país e professores, às vezes, sentem-se perdendo autoridade e acabam se tornando mais autoritários ainda.

A partir de todas essas reflexões, percebem-se como necessárias novas posturas e atitudes para a escola e a família, a fim de adequarem-se para uma nova ordem moral e ética exigida pela realidade atual.

Escola precisam sair da postura de apenas lugar de transmissão de informações e assumir a postura mais interativa – de oficina - , onde o aluno não vai apensas copiar, mas construir conhecimento; onde alunos e professores irão criar através de pesquisas do conhecimento já estabelecido, sem a preocupação de simplesmente preparar o aluno para uma fase posterior da sua vida.

Tornar a escola um espaço de “ações produtivas” é provocar desafios nos alunos, que os levem a usar operações mentais contrárias à passividade mental exigida atualmente para a recepção das transmissões que já ocorrem; fazer da escola um espaço para o exercício da cidadania com atitudes concretas, tanto dentro quanto fora da sala de aula, chamando os alunos à discussão sobre normas e regras de funcionamento da escola e à confecção dessas. A aula não deve ser somente um espaço de transmissão e construção de conhecimento, mas de exercício de valores fundamentais para a formação da pessoa humana, tais como: respeito pela responsabilidade e não pelo medo; liberdade, observado o limite de cada um e não transformada em libertinagem do “eu faço o que quero”; participação pelo “sentir-se parte” e não pela obediência às ordens.

À família cabe ocupar os filhos, mas não preencher-lhes o tempo apenas, como ocorre, na maioria das vezes, com o excesso de atividades, tais como escolinhas de esportes, balé, inglês, aulas particulares, etc. Ocupa-los com afazeres de responsabilidades práticas, como arrumar sua cama, seu quarto, cuidar de algum animal, levar o lixo para o latão, preparar o lanche da noite de algum dia da semana, administrar suas despesas e várias outras atividades necessárias numa casa. A intenção aqui é apenas que os filhos valorizem e respeitem trabalhos considerados por eles mesmos, principalmente para famílias mais favorecidas economicamente.

A escassez do tempo nos dias de hoje é um fato concreto, por isso devem-se transformar em qualitativos os encontros dos pais com os filhos. Isso significa apenas um mínimo de atenção e carinho. Escolas devem deixar de ser, para os pais, apenas mais um local para entreter os filhos. Famílias devem deixar de ser para as escolas e professores as únicas responsáveis pelos fracassos, insucessos e “falta de educação” dos alunos. É chegada a hora de todos assumirem as suas responsabilidades sem ficarem transferindo-as para os outros. Se cada um fizer a sua parte, ou pelo menos tentar e não desistir, acontecerão ações concretas para a transformação dessa realidade mesquinha e individualista.

Não é tarefa fácil, pois mudar mentalidades é o mais difícil. A sociedade precisa desaprender para aprender, deseducar para educar.

A partir do texto, reflita a respeito das ideias apresentadas, discuta com seus colegas e responda à questão a seguir.

12. Qual é o contraste que o texto apresenta entre a família do século passado e a atual? Como isso influencia diretamente no jeito de ser da escola?

Agora, leia a música dos Titãs




Família

Titãs

Composição: Arnaldo Antunes / Toni Bellotto

Família! Família!

Papai, mamãe, titia

Família! Família!

Almoça junto todo dia

Nunca perde essa mania...

Mas quando a filha

Quer fugir de casa

Precisa descolar um ganha-pão

Filha de família se não casa

Papai, mamãe

Não dão nem um tostão...

Família êh! Família ah!

Família! oh! êh! êh! êh!

Família êh! Família ah!

Família!...

Família! Família!

Vovô, vovó, sobrinha

Família! Família!

Janta junto todo dia

Nunca perde essa mania...

Mas quando o nenêm

Fica doente

Uô! Uô!

Procura uma farmácia de plantão

O choro do nenêm é estridente

Uô! Uô!

Assim não dá pra ver televisão...

Família êh! Família ah!

Família! oh! êh! êh! êh!

Família êh! Família ah!

Família! hiá! hiá! hiá!...

Família! Família!

Cachorro, gato, galinha

Família! Família!

Vive junto todo dia

Nunca perde essa mania...

A mãe morre de medo de barata

Uô! Uô!

O pai vive com medo de ladrão

Jogaram inseticida pela casa

Uô! Uô!

Botaram cadeado no portão...

Família êh! Família ah!

Família!

Família êh! Familia ah!

Família! oh! êh! êh! êh!

Família êh! Família ah!

Família! hiá! hiá! hiá!

13. Os Titãs, em sua canção, ironizam algumas atitudes típicas da família, destaque-as e apresente as críticas que eles promovem com essa ironia.

A RELIGIÃO

A influência religiosa nas atitudes das pessoas é muito grande e, na maioria das vezes, imperceptível. Essa influência encontra-se automatizada, pois já foi totalmente internalizada. A educação e os costumes são os maiores instrumentos para a formação dessa ação automática.

Na cultura cristã, o perdão é um dos maiores instrumentos de convivência entre os seres humanos. Na cultura judaica, com todas as atrocidades que viveram, no período do holocausto, os judeus pregam o ser justo para com o outro e defendem que querer justiça para si é um mecanismo de convivência entre as pessoas.

Podem-se observar pessoas que se dizem céticas a qualquer concepção religiosa, mas convivem com um mundo religioso que, sem que percebam, influencia suas atitudes. É muito comum ouvir de ateus convictos, em situação de perigo, um “graças a Deus” sem nenhum constrangimento.

Houve um tempo em que religião e Estado confundiam-se, e todas as ações individuais eram controladas por um código moral que determinava as atitudes das pessoas. Era um tempo teocêntrico, em que Deus em que Deus era a referência para tudo e para todos. Com o avanço da ciência e a emancipação humana, passou-se para um tempo antropocêntrico, em que o ser humano é o referencial central, manifestado na valorização da racionalidade.

Períodos históricos são hegemônicos, não totalitários: isso significa que prevalece um tempo de pensar e agir, mas isso não significa que não existam outras maneiras. Os costumes não são modificados instantaneamente, levam um bom tempo para sofrerem alterações.

A sociedade mundial encontra-se num período de transição, em que o teocentrismo não faz mais sentido, e o antropocentrismo é questionado. Argumentos dos dois períodos são valorizados e resgatados provocando uma transição para o biocentrismo, em que a vida é o referencial que governará nossas atitudes. Esse período está por acontecer ou ainda não se faz hegemônico no mundo. Mesmo com a possibilidade dessa transição, mentalidades de um período teocentrico ainda influenciam, diretamente, nossas atitudes. As religiões não são estáticas, acompanham as mudanças do mundo e também se transformam para permaneceram atualizadas.

Releituras são feitas para atualizar o discurso e justificar a continuidade da existência das diversas religiões.

A cultura mundial tem impregnados em si diversos costumes influenciados pelas religiões, a começar pela contagem do tempo, antes de Cristo e depois de Cristo, e o próprio calendário com os diversos feriados religiosos que existem ao longo do tempo.

De tempos em tempos, com maior ou menor influência, evidencia-se o poder das religiões sobre as pessoas.

14. Faça um levantamento de situações do cotidiano, em que há, direta ou indiretamente, a influência da religião na vida das pessoas.

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Agora, vamos pensar nos meios de comunicação existentes na sociedade atualmente: temos do jornal impresso à internet, rede de computadores interligados entre si; a televisão, com seus diversos programas e com acesso à TV a cabo e a variedade desses, tornou-se extremamente maior; sem esquecer que o rádio nunca perde o seu espaço e permanece presente na vida das pessoas. Para aprofundarmos o tema, acompanharemos fragmentos do texto de Luís Felipe Miguel, que é doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

"Para a maioria das pessoas, só existem dois lugares no mundo: o lugar onde elas vivem e a televisão". A frase da personagem de Ruído branco, o romance de Don DeLillo (1987, p. 69), sintetiza a presença da mídia – que a televisão simboliza, na qualidade de meio dominante – no mundo contemporâneo. Dela provêm, direta ou indiretamente, por meio de noticiários ou programas de entretenimento, quase todas as informações de que dispomos para situarmo-nos no mundo. Por meio dela, ganhamos acesso a uma experiência vicária que multiplica muitas vezes as nossas próprias vivências.

Estamos tão imersos no discurso midiático que, muitas vezes, nem percebemos a extensão de sua presença1 . Mas, quando paramos para refletir, verificamos que o impacto da mídia é perceptível em todas as esferas de nossa vida cotidiana. Já o advento da imprensa diária, no século XVIII, fez da leitura dos jornais um novo ritual, sobretudo para as camadas urbanas mais cultas. No século XX, o rádio e, em seguida, a televisão alteraram toda nossa gestão do tempo, seja pelo surgimento da simultaneidade da informação, seja pela adequação da rotina à emissão dos programas. [...]

Ainda mais significativa do que o aumento do tempo dedicado ao consumo da mídia é a ampliação exponencial da quantidade de informações de que cada indivíduo dispõe, para além de seu círculo de convívio direto. [...]O que chega a cada um de nós, individualmente, porém, é apenas uma parte diminuta das informações produzidas. Uma única edição dominical de um grande jornal levaria várias semanas para ser lida na íntegra. No dia-a-dia, um misto de escolha e acaso filtra o conjunto de informações que cada indivíduo específico recebe. O acompanhamento da totalidade do conteúdo da mídia, ainda que por um curto lapso de tempo, é tarefa irrealizável, como bem sabem os pesquisadores da área.

Uma das análises mais perceptivas do impacto da mídia eletrônica sobre o tecido social foi feita por Joshua Meyrowitz (1985). Ele mostrou como os meios de comunicação, sobretudo a televisão, romperam barreiras entre espaços sociais antes relativamente estanques. Quando mulheres e homens ou jovens e adultos compartilham das mesmas informações, por assistirem aos mesmos programas, torna-se mais difícil decretar que "isto não é assunto de mulher" ou "isto não é assunto de criança". Assim, diz ele, a mídia alterou toda a "geografia situacional" da vida social.

Nas formas da ação política, em especial, o impacto dos meios de comunicação de massa é gigantesco. De maneira esquemática, é possível assinalar quatro dimensões principais nas quais a presença da mídia faz-se sentir, alterando as práticas políticas2:

1. a mídia tornou-se o principal instrumento de contato entre a elite política e os cidadãos comuns. As conseqüências desse fato são importantes: ele significa que o acesso à mídia substitui esquemas políticos tradicionais e, notadamente, reduz o peso dos partidos políticos. A literatura costuma apresentar, entre as principais funções dos partidos, a de serem ferramentas que permitem que a cúpula mobilize seus apoiadores e, por meio deles, alcance o conjunto dos cidadãos; inversamente, que recolhem demandas das pessoas comuns, permitindo assim que elas cheguem às esferas de exercício do poder. Os meios de comunicação de massa suprem, em grande parte, ambas as funções, contribuindo para o declínio da política de partidos (WATTENBERG, 1998).

2. Por efeito dessa predominância como instrumento de contato, o discurso político transformou-se, adaptando-se às formas preferidas pelos meios de comunicação de massa. É comum o lamento de que os "políticos de todas os matizes têm revelado uma tendência a descaracterizar seu próprio discurso e incorporar o estilo midiático" (SARTI, 2000, p. 3; grifo suprimido). O problema desse tipo de formulação é que ele supõe a existência de um modo do discurso propriamente político – quando, na verdade, ele é mutável, de acordo com o contexto histórico em que se inclui e com as possibilidades técnicas de difusão de que dispõe. Assim, é necessário compreender as transformações que os meios eletrônicos de comunicação impuseram ao discurso sem um fundo normativo que diga qual é o "verdadeiro" discurso político, livre de contaminações.

Na época de predomínio da televisão, em especial, avulta o peso da imagem dos políticos e, o que talvez tenha conseqüências ainda mais importantes, o discurso torna-se cada vez mais fragmentário, bloqueando qualquer aprofundamento dos conteúdos (MIGUEL, 2000, p. 72-78). A fragmentação do discurso não é uma imposição técnica da televisão, mas fruto dos usos que se fizeram dela. O resultado é que a fala-padrão de um entrevistado em um telejornal, por exemplo, é de poucos segundos e as expectativas dos telespectadores adaptaram-se a essa regra. Os políticos, em conseqüência, também. Abreviar a fala, reduzi-la a umas poucas palavras, de preferência "de efeito", tornou-se imperativo para qualquer candidato à notoriedade midiática. Em um estudo muito citado, que abriu caminho para pesquisas posteriores, Daniel C. Hallin (1992) observou como tal fenômeno manifestou-se nas campanhas presidenciais estadunidenses, culminando em falas editadas dos candidatos com, em média, cerca de 8 segundos.

3. Conforme uma vasta literatura aponta, a mídia é o principal responsável pela produção da agenda pública, um momento crucial do jogo político. A pauta de questões relevantes, postas para a deliberação pública, é em grande parte condicionada pela visibilidade de cada questão nos meios de comunicação. Dito de outra maneira, a mídia possui a capacidade de formular as preocupações públicas. O impacto da definição de agenda pelos meios de comunicação é perceptível não apenas no cidadão comum, que tende a entender como mais importantes as questões destacadas pelos meios de comunicação, mas também no comportamento de líderes políticos e de funcionários públicos, que se vêem na obrigação de dar uma resposta àquelas questões.

4. Mais do que no passado, os candidatos a posições de destaque político têm que adotar uma preocupação central com a gestão da visibilidade. Não se trata de singularizar a época atual pela presença do "espetáculo político", já que aspectos similares fazem parte das práticas políticas desde há muito, como foi demonstrado exemplarmente para a França de Luís XIV (APOSTOLIDÈS, 1993; BURKE, 1994). Os pontos centrais são outros. Há, em primeiro lugar, a busca do fato político (aquele que é assim reconhecido pela mídia), como forma de orientar o noticiário e, dessa forma, influenciar a agenda pública, o que implica a absorção de critérios de "noticiabilidade" por parte dos atores políticos. Além disso, a visibilidade na mídia é, cada vez mais, componente da produção do capital político. A presença em noticiários e talk-shows parece determinante do sucesso ou fracasso de um mandato parlamentar ou do exercício de um cargo executivo; isto é, na medida em que deve acrescentar algo ao capital político próprio do ocupante. A notoriedade midiática é condição necessária para o acesso às posições mais importantes do campo político.

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-44782004000100002&script=sci_arttext acesso em: 08 set. 2011. (Fragmento)

15. Vamos levantar um problema a ser discutido e pesquisado: nos dias de hoje, estariam os meios de comunicação substituindo predominantemente as religiões no processo de influência direta aos indivíduos? Inicialmente discutam, entre vocês, se concordam ou discordam e quais argumentos apresentam para defender suas ideias. Posteriormente, façam entrevistas com diversas pessoas, comparem-nas e tirem suas conclusões. Registrem os procedimentos utilizados no trabalho e a conclusão elaborada.



Resolução comentada das questões

1. Na primeira imagem, observamos a tela limpa, apenas a logomarca do telejornal. Já na outra imagem, temos um excesso de informações ao mesmo tempo, como letreiros trazendo informações e o apresentador, dentre outras.

2. A importância da imagem na sociedade atual; avanços tecnológicos ligados à informática; necessidade de maior velocidade das informações; maior facilidade e maior acesso às informações; entre outras.

3. Ao mesmo tempo em que os avanços tecnológicos propiciam melhorias às pessoas, eles também provocaram maior diferença social. Acesso facilitado, mas para quem possui recursos financeiros, provocando o analfabetismo virtual; uma grande preocupação com a imagem e a desvalorização do conteúdo.

4. As épocas nos remetem à questão política. Na primeira imagem, vivemos um período de censura às informações e expressão de ideias, o que não acontece nos dias atuais, época da segunda imagem. Com isso, há identidades distintas. No passado: ausência de liberdade, regime político autoritário/repressor, população pouco informada, manipulação dos meios de comunicação. Nos dias de hoje, excesso de liberdade e informação, ausência de limites e preocupação com a imagem.

5. Uma resposta possível: hoje sou um jovem com meus desejos e interesses mais definidos do que aos 6/7 anos, mais autônomos, mais independente dos meus pais. Antes não duvidava de nada que meus pais falavam, hoje tenho minhas próprias ideias, que, muitas vezes, acabam levando a conflitos com meus pais, pois eles não concordam comigo, nem eu com eles. A independência é a grande mudança, como ela não é total, por isso torna-se também um problema.

6. Uma resposta possível: Não, pois considero melhor dizer o que penso do que enganar as pessoas.

Sim, pois sinto-me acanhado diante do outro e não dou conta de expor minhas próprias ideias e fico com medo de perder as amizades ou o carinho dos meus pais.

7. Quartelada - nossa República não foi alcançada a partir de um grande conflito, em que a população estivesse envolvida. A quartelada foi exatamente porque o povo brasileiro não fez parte do processo de transformação do Império em República, ficando apenas reservada aos quartéis.

Penada - o processo de libertação dos escravos ocorreu através de uma lei, Penada, da princesa Isabel, de que em nenhum outro acontecimento da história brasileira ela fez parte.

Hecatombes - nossa história não possui nenhum grande conflito, em que nos confrontamos entre nós mesmos.

8. Tivemos poucos eventos traumáticos, sangrentos e que tivessem requerido decisões dramáticas (execeto para os pobres, de pouca ressonância na nossa cultura). Alguma coisa diferencia a nossa história, poupada dos catecismos medonhos que causaram indizível sofrimento a outros países. A história deixou de nos ensinar a tomar decisões duras e penosas, as que cortam na carne, as que pisam nos calos de muitos. Isso caracteriza a Sociedade Cordial.

9. Em situações em não há consenso, ficamos paralisados. Toleramos o intolerável quando não encontramos um desenlace de conciliação. Nossa sociedade, medrosa e indecisa, conviveu, por meio século, com a inflação. Não teve corragem de reformar a Previdência, os impostos, a lei eleitoral, a trabalhista, a sindical, a judicial e muitas outras. Deputados não ousam punir colegas delinquentes. Não fazemos reformas econômicas profundas, como fizeram Argentina, Peru e Chile. Assistimos impassíveis à nossa economia ser corroída pela China. Diante das desigualdades seculares, oferecemos esmolas pré-eleição. Sonhamos com a volta de Dom Sebastião - ou do Juscelino.

10. Há interferência dos dois lados, somos produto do meio e agimos sobre esse meio.

11. Todos esses instrumentos - família, escola, meios de comunicação e religião - encontram-se intensamente no nosso dia a dia e a todo momento influenciando nossa formação. A família nos dá os limites do que podemos ou não fazer; a escola, além das letras, sociabiliza-nos, dando-nos noção da convivência em sociedade; os meios de comunicação nos informam e influenciam nossos desejos, principalmente os de consumo; a religião, quando a professamos, age sobre nossa moral, quando não a professamos, já nos dita algumas regras, que não temos escolha, por exemplo, o calendário.

12. As famílias eram numerosas, com muitos filhos, que, sob a orientação da mãe, que não trabalhava fora, dividiam as tarefas de casa, provocando um saber prático, Hoje as famílias reduziram o tamanho, um ou dois filhos, em média. A mãe trabalha fora e com isso o trabalho doméstico foi terceirizado. Essas mudanças afetam diretamente a escola, pois elas precisam assumir funções, como o saber prático, que as famílias não oferecem mais.

13. A canção faz uma crítica a uma moralidade velada, pois a mulher não pode ter autonomia, ressalta o papel do pai e da mãe, a partir dos medos presentes na música, com se, na família, cada um tivesse um papel a cumprir.

14. A religião, nos influencia diretamente com os ensinamentos que contribuem para a formação moral: sentindo de justiça, sociedade, solidariedade, compaixão e amor. Indiretamente, a moral cristã está enraizada na sociedade, o calendário, antes e depois de Cristo, as festas comemorativas e seus feriados - Natal, Semana Santa, Corpus Christi, etc.

15. A secularização da sociedade, em que a influência religiosa vai se extinguindo, o aumento da informação e do conhecimento, a desmistificação de vários fenômenos, antes considerados sobrenaturais, provocam um afastamento das religiões e dos seus ensinamentos. Com isso, os meios de comunicação, principalmente através das telenovelas, assumem, ou tomam para si, um papel de forte influência sobre as pessoas, vinculadas ao desejo de consumo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário